Durante meu final de semana pensei muito sobre o peso de ter 30 anos. Aliás, não só pensei, como compartilhei minha, de certa forma, angústia com muita gente (não é Stéphanie?). Ontem almocei com um grande amigo meu (Bruno) que também tem 30 anos e, coincidentemente, está em crise por causa disso!!!! Na minha cabeça isso era coisa exclusiva de mulher, mas não é, ela chega para todos! Imediatamente me lembrei desse texto, muito bem escrito por uma amiga (Martinha) para o irmão dela, no dia do aniversário dele. Me identifiquei e me diverti pensando nas caraminholas que a gente coloca na própria cabeça. Viva aos meu 30 anos!!!!!
Hoje acordei com 30 anos. Preocupado, acho até que ganhei o dobro de fios brancos na cabeça numa noite só. Por um momento fecho os olhos e penso que não é verdade, não tenho tudo isso. Quando eu tinha meus 12 anos e me imaginava velho, com 30 anos, óbvio, me via num mega apartamento, com uma mega carro, uma mega família, chegando do trabalho de terno e gravata e pasta de couro na mão. E hoje acordei com trinta e continuo na mesma cama de solteiro de 20 anos atrás, e ainda estou pagando o financiamento do meu carro 1.0 que finalmente consegui comprar. Como pode? Acordei com 30 e nada mudou? Começo a sofrer por não ter conseguido chegar aos 30 como os 30 deveriam ser. O que vai acontecer agora? Quem tem 30 logo logo tem 40... E os filhos? E o tal apartamento? E o cargo de executivo de uma grande empresa? O $$$, ou melhor, a falta dele, se torna o monstro dos 30 anos. Agora já era! Não tenho mais 30 anos para conseguir tudo isso! A crise dos 30 me faz pensar em tudo que eu não construí. É como um atestado de incompetência! Carimbado! Eu que gostava tanto de aniversário, descobri que ficar mais velho é assustador e que tenho muito mais rugas na testa do que eu imaginava ter. E a barriguinha? Que horror! Passei o dia trancado no quarto, me escondendo do espelho e fazendo contas para o financiamento do tal apartamento. A mega família... ah, isso eu penso depois, filho é fácil de fazer, multiplicar $$$ que é complicado. O celular não parava de tocar, mas eu não queria falar com ninguém. Imagina? Comemorar o que? O fracasso de um trintão? Passei o dia com a cabeça a mil, não conseguia fazer mais nada! Fui mexer numas caixas velhas que guardo alguns papéis e documentos. Precisava urgente achar o telefone do meu gerente do banco. Com certeza ele iria me ajudar. Só o Silva para me salvar. Revirando tudo encontrei uma foto antiga, amarelada já, daquelas tipo polaróide, vestido de índio na festinha da escola com mais outros 20 e tantos indiozinhos. Achei engraçado, esqueci um pouco do gerente e resolvi procurar mais fotos. E encontrei várias! Batman, coelho da páscoa, papai Noel, soldado, caipira... fui arrumando todas em ordem cronológica, dentro de uma caixa. E era foto que não acabava mais. E fui me lembrando da turma da escola. Da menina gordinha, de apelido botijão de gás, que todo mundo dizia que era apaixonada por mim. Foto da família e dos cachorros, que nem me lembrava mais que existiam. Depois achei umas fotos muito engraçadas quando já estava na 6ª serie, de uma viagem que fiz com o colégio para a praia. As meninas todas de short tomando banho de mar. E os meninos nem aí. Todo mundo com aquele bigodinho de Latino, bem bizarro, uns shorts curtos com camiseta de malha para dentro. Aff, como eu era mané. E assim o meu dia foi passando. As fotos não tinham fim. Era absurda a quantidade de fotos que eu tinha guardada. Me diverti muito vendo tudo aquilo. E senti saudade também. Da vida boa do colégio. Das aulas de educação física. Do amigão que perdi num acidente de carro. Chorei e ri muito. Passei horas, sentado no chão organizando aquilo tudo. Finalmente cheguei na faculdade! Liberdade! Porres e mais porres! Não sei como conseguia ir para o estágio depois de uma farra homérica em plena quarta feira! E as viagens de Reveillon? Era um teste de capacidade para uma casa de ¼ e sala! Os amigos e as polêmicas. Os carnavais! As paixonites! As fotos com o pessoal do estágio. Daquele treinamento que fiz em SP com a equipe do trabalho. Em algumas horas montei um filme da minha vida dentro de uma caixa de fotos. E era um filme muito interessante, contava a história de um short curto de nylon virando bermuda e de um indiozinho virando um cara muito bacana. Um filme de medos que viravam novos medos, de amigos que se somavam, de amores que se transformavam. Naquele momento eu montei o vídeo da minha vida com 30. E era muita vida! Quase não cabia numa caixa só! E olha que a caixa era bem grande! E naquele momento eu já não queria mais encontrar o telefone do tal gerente do banco. Já tinha me encontrado no meio daquele turbilhão de ansiedade. Resolvi atender o celular. Encarei o espelho, e vi que não eram tantas rugas assim. Tava até parecido com George Clooney. Precisava tirar mais fotos, afinal o filme que estava montando naquela caixa estava bem longe da metade... e ninguém tira foto trancado num quarto. E o apartamento, o super carro e a super família? Amanhã eu resolvo, afinal SÓ tenho 30 anos!